sábado, 18 de julho de 2009

Feliz pra sempre

- E agora?
- Eu é que pergunto! Vamos saber agora ou no final?

Quando eu tinha 15 anos, meus planos para o futuro se resumiam em algumas coisas: eu me casaria aos 18 ou 20, com 22 eu teria filhos (um casal de gêmeos) e eu seria feliz para sempre com eles e meu marido. Aos 30 (mas com carinha de 25), minha sorte era outra: estava no fim do mestrado, sem filhos nem marido, morando sozinha, bebendo de vez em quando, comprando mais do que precisava e indo pro samba com minhas amigas. Não era frustrada por não ter o primeiro sonho realizado - acho que minha mãe devia ser por ainda não ter netos -, mas sentia falta dessa cumplicidade que um relacionamento mais consistente gera.

- Você prefere saber antes?

Um dia, recebi o telefonema de uma amiga que me avisava de sua chegada. Fiquei com inveja: "então combinado - amanhã chegaremos eu, meu marido e o bebê". Ela estava grávida de 5 meses e com um brilho no sorriso e nos olhos, um inconfundível brilho de uma felicidade simples, mas verdadeira. Cheguei a pensar que eu nunca falaria isso a uma outra pessoa: "fulana, me espere porque, amanhã, chegaremos eu, meu marido e o bebê". Ainda bem que me enganei.

- Doutor, podemos esperar o próximo exame?

Ele apareceu em minha vida assim como quando o arco-iris aparece: após uma chuva e entre o sol e as nuvens. Juro que, em meu coração, sentia que as coisas não iriam pra frente, mas minha razão contradizia isso. Eu achava estranho, porém não podia negar - era como se minha paixão fosse racional (duas palavras que não combinam, geralmente). A gente se dava tão bem em tudo... a gente se amava tão louca e pausadamente... Um ano depois que nos conhecemos, resolvemos tentar viver juntos. Não tão juntos, é verdade, porque manteríamos, cada um, sua própria casa. Casal moderno, dizia minha mãe. Mas essa estabilidade no sentimento era impagável, inegável, inevitável. Muitas neuras que tínhamos foram sumindo, mitos antigos foram vencidos, horizontes novos se abriam - e então, aconteceu.

- A gente aguenta saber só quando nascer, né?

Eu faria 33 no fim do ano e ele já tinha 34. Nos sentamos na cama, pela manhã, e decidimos: à noite faremos nosso bebê. Era uma linda noite de lua cheia e chegamos na casa dele muito conscientes de que nossas vidas mudariam muito. Parecíamos adolescentes eufóricos. Gozamos tanto aquela noite (e naquela noite) que nosso bebê não poderia ter sido gerado em melhor ocasião. Algumas semanas depois e lá estávamos nós dois chorando e se beijando e se abraçando com o papel do exame de sangue em mãos. Eu estava grávida. Enjoei pra cacete no primeiro mês, mas logo passou. Ele saía pra comprar cajuzinho às 3h da manhã. Eu adorava fazer amor com ele e mostrar minha barriguinha de 4 meses.

Estou no 6º mês de gravidez. Da segunda gravidez. Optamos por não saber o sexo do bebê na última consulta. Agora, sentada na mesma cama, com as pernas cruzadas, converso com o bebê que sinto se mover dentro de mim. Acaricio minha barriga e me delicio com essa sensação. Ele sai do chuveiro, ainda com os cabelhos um pouco úmidos, e se senta de frente pra mim. Pega o óleo de amêndoas, me deita na cama e começa a conversar também com o bebê durante a leve massagem que ele faz. Assim que ele percebe que nossos dois filhos se aquietam, ele me beija e me aninha em seus braços. E nos amamos. Sinto, assim, que meu pra sempre é meu hoje. E hoje eu sou feliz pra sempre.

2 comentários:

Priscila Ferreira disse...

Diria Renato Russo em Índios: "O que aconteceu ainda está por vir e o futuro não é mais como era antigamente"

Alice disse...

Adorei!